segunda-feira, 26 de novembro de 2012

preparo-me lentamente. antevendo a possibilidade de uma nova rotina, decoro as palavras. um silêncio carregado de palavras, é tudo o que levo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

o videoclube fechou. queria ter-te dito isso. mas desde aquela altura a lista de coisas que eram e já não são cresceu tanto, que me contive. parte de mim ficou por ali. a escolher filmes e a comprar gelados.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

regresso


há uma casa, sei disso, porque sempre houve uma casa. as minhas insónias e aquela música a passar  em repeat. leio mas não acredito, não se criam novas memórias. e o céu carregado relembra-me. foi sempre uma só pessoa ao volante. mesmo quando fazia os 432 km. deixo que o cd toque só mais uma vez.

terça-feira, 17 de julho de 2012

a mapear o trabalho dos outros


(para construir é preciso destruir, já dizia o outro. e eu que só sei ler, vou tirando apontamentos, construindo o mapa desta destruição.)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

a exposição (work in progress)






Aqui fica a exposição (virtual) para quem não pode vir a Lisboa, foram estes os cinco dípticos escolhidos de um trabalho que quero grande como um dicionário, espero que gostem. (p.s. carreguem nas imagens para as verem num tamanho decente.)

domingo, 1 de julho de 2012

estreia hoje




O MELHOR FOI O JANTAR – receita para uma metáfora
Alunos da Oficina de Criação 2011/2012 do SOU
JULHO de 2012Dias 1,2,3, 30 e 31
21h | Casa dos Amigos do Minho, Intendente
7€ com refeição incluída (Bacalhau à Minhota)

sábado, 30 de junho de 2012

(re)leituras



(ou como as conversas nos fazem revisitar certos textos)


Mistah Kurtz - he dead
   
                      A penny for the Old Guy 


                        I
   
    We are the hollow men
    We are the stuffed men
    Leaning together
    Headpiece filled with straw. Alas!
    Our dried voices, when
    We whisper together
    Are quiet and meaningless
    As wind in dry grass
    Or rats' feet over broken glass
    In our dry cellar
   
    Shape without form, shade without colour,
    Paralysed force, gesture without motion;
   
    Those who have crossed
    With direct eyes, to death's other Kingdom
    Remember us-if at all-not as lost
    Violent souls, but only
    As the hollow men
    The stuffed men.

   
                              II

    Eyes I dare not meet in dreams
    In death's dream kingdom
    These do not appear:
    There, the eyes are
    Sunlight on a broken column
    There, is a tree swinging
    And voices are
    In the wind's singing
    More distant and more solemn
    Than a fading star.
   
    Let me be no nearer
    In death's dream kingdom
    Let me also wear
    Such deliberate disguises
    Rat's coat, crowskin, crossed staves
    In a field
    Behaving as the wind behaves
    No nearer-
   
    Not that final meeting
    In the twilight kingdom

   
                   III

    This is the dead land
    This is cactus land
    Here the stone images
    Are raised, here they receive
    The supplication of a dead man's hand
    Under the twinkle of a fading star.
   
    Is it like this
    In death's other kingdom
    Waking alone
    At the hour when we are
    Trembling with tenderness
    Lips that would kiss
    Form prayers to broken stone.

   
                     IV

    The eyes are not here
    There are no eyes here
    In this valley of dying stars
    In this hollow valley
    This broken jaw of our lost kingdoms
   
    In this last of meeting places
    We grope together
    And avoid speech
    Gathered on this beach of the tumid river
   
    Sightless, unless
    The eyes reappear
    As the perpetual star
    Multifoliate rose
    Of death's twilight kingdom
    The hope only
    Of empty men.

   
                           V

    Here we go round the prickly pear
    Prickly pear prickly pear
    Here we go round the prickly pear
    At five o'clock in the morning.
   
    Between the idea
    And the reality
    Between the motion
    And the act
    Falls the Shadow
                                   For Thine is the Kingdom
   
    Between the conception
    And the creation
    Between the emotion
    And the response
    Falls the Shadow
                                   Life is very long
   
    Between the desire
    And the spasm
    Between the potency
    And the existence
    Between the essence
    And the descent
    Falls the Shadow
                                   For Thine is the Kingdom
   
    For Thine is
    Life is
    For Thine is the
   
    This is the way the world ends
    This is the way the world ends
    This is the way the world ends
    Not with a bang but a whimper.

T. S. Eliot, The Hollow Men

leituras

I didn't understand women at that period. I still don't for that matter. Nor men either. Nor animals either. What I understand best, which is not saying much, are my pains. I think them through daily, it doesn't take long, though moves so fast, but they are not only in my thought, not all.

Samuel Beckett, The Expelled (First Love) 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

leituras

A convicção de que a natureza humana raramente se confronta com algo «irremediavelmente perdido» não falha nunca em conferir-nos certa respeitabilidade.

Robert Walser, Histórias de Amor

da água III


sábado, 23 de junho de 2012

o cavalo de turim


A Torinói ló, Béla Tarr (2011)

sábado, 16 de junho de 2012

estudos para [ainda sem título]



desta vez as fotografias vieram antes do texto, comparo-as ao que tenho organizado sob o título "purgatório"   e parecem imbuídas da mesma melancolia, do mesmo vazio, talvez sejam continuação de algo maior que ainda não decifrei.
obrigada lina & nando por me darem a conhecer o espaço e pela "residência artística" que começa agora a dar frutos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

dormir

adormecia com a ideia de que podia acordar e não me lembrar de quem era. no sono não somos. sonhamos e não somos. maravilhava-me a ideia de um buraco negro, daquelas horas todas em que não era. e ao acordar voltava a ser. assim, sem mais nem menos. depois havia os dias em que acordava e achava que a porta do quarto devia estar à minha direita, quando sempre esteve à minha esquerda.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

leituras

O conhecimento amontoa-se em frases. Repara: a literatura também é isto. O conhecimento não se acumula em imagens. Só o alfabeto tem memória a que chamemos inteligente.

Gonçalo M. Tavares, A Perna Esquerda de Paris seguido de Roland Barthes e Robert Musil


(Ainda não percebi se ando a tentar provar ou refutar esta ideia.)

segunda-feira, 4 de junho de 2012



Hoje o dia foi muita coisa, coisa a mais, provavelmente. As coisas que moem guardo-as num lista à parte, raramente vêm aqui dar e ainda bem, porque eu gosto de cá vir. Das coisas boas de hoje:
1) Os 5 (!) dípticos para a exposição estão escolhidos (convido desde já os parcos leitores deste blog a darem um salto à inauguração que será a 10 de Julho). Ficou de fora este, não sei se concordo, se não, mas confesso que me veio um sorriso aos lábios quando refutaram o argumento de que este seria mais político que os outros dípticos, não combinando, por isso, com o resto do conjunto: "Olho para o queque e vejo o Passos Coelho, a política está lá."
2) Noutro registo completamente diferente, senti-me lisboeta como há muito não me sentia, estive meia hora a discutir as marchas com a senhora da secretaria, ao que parece não pregou olho o fim-de-semana inteiro para ver os ensaios gerais e eu que voltei a não ter bairro, escolhi instintivamente apoiar a marcha do castelo (percebo agora que não podia ser outra).

p.s. continuo com os mesmo problemas técnicos ao apresentar este trabalho (lado a lado é que devia ser), dedicar-me-ei assim que possível a aprender a pôr isto direito.

domingo, 3 de junho de 2012

sábado, 2 de junho de 2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

the big brother is always watching you


A primeira cicatriz de que me lembro é a que tenho no joelho esquerdo.  Da altura mais desportista da minha vida, era perita em dar as voltas mais rápidas ao bloco de prédios onde vivia, na bmx vermelha – a bicicleta mais cool jamais inventada. Andava, na época, preocupada em saber subir passeios  e descer a rampa mais íngreme da zona, que acabava – obviamente – numa curva de 90.º ou, para os mais nabos, directamente no muro da escola. Saber fazer aquela curva era tudo o que contava. (Admito desde já que todas as cicatrizes que fiz se reportam a esse tempo bem delimitado em que ninguém me fazia frente… depois disso deixei-me de acrobacias e dediquei-me aos livros – a ler, entenda-se.)
Mas voltando a essa primeira cicatriz, lembro-me perfeitamente do joelho esfolado, do frasco de betadine mágico e daquele que era sempre o momento determinante – a altura de arrancar a crosta. O controlo sobre o período exacto de convalescença era meu; nesse tempo não importavam as consequências – a horrível cicatriz; importava, sim, ficar impecável novamente e pronta para a próxima corrida.
Agora que os tempos são outros, através da maravilha que é a tecnologia – devíamos todos saber “the big brother is always watching you”  (ler os clássicos vai dando jeito para as pequenas surpresas da vida) – descobri que quem nos arranca as crostas – virtuais, diga-se, que nada disto é visceral, mas isso é outra conversa – são os outros.  Parva com a descoberta de que ando a ser diligentemente seguida por quem não me conhece, mas que decididamente acha que me vai conhecer por aqui (os números impressionantes de páginas visitadas e a cadência obsessiva dessas mesmas visitas é obra que merece a banda sonora do Psycho em jeito de homenagem), deixo aqui algumas notas que penso poderem ser de interesse:
1) Houve uma altura da minha vida em que uma bmx vermelha directamente entregue pelo pai natal (não, os meus pais não eram pós-modernos) era o meu maior orgulho;
2)  Também eu já me diverti a arrancar crostas à espera que ficasse tudo bem, mas rapidamente descobri que as cicatrizes notam-se sempre e são coisa pouco sexy;
3) Depois dessa época bem sadia da minha vida, mas muito pouco produtiva, dediquei-me aos livros e só posso aconselhar o mesmo caminho – uma voltinha ao bilhar grande e umas boas leituras, acredita, dá mais frutos do que se andar a perder tempo por estas paragens.

amanhã, sempre amanhã


Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...Sim, o porvir...

Álvaro de Campos

sexta-feira, 18 de maio de 2012

o texto reencontrado

do catálogo de todas as coisas que ficaram por arrumar.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

work in progress



Por enquanto é o único díptico escolhido, será exposto lá para Julho.


(informação técnica: as fotografias deveriam estar lado a lado, como num verdadeiro díptico, mas sou tecnicamente bastante naba nisto das publicações on-line. Perante a pergunta: Porquê? Fica a resposta: são duas fotografias que se complementam; de um lado um objecto, do outro um texto; a segunda não serve de legenda à primeira. Expô-las lado a lado é garantir-lhes a mesma dignidade fotográfica.)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

da classificação



há na repetição algo de reconfortante. despidas do seu sentido original - porque repetidas até à exaustão - até as pequenas humilhações, que sempre me pareceram as mais infames, se tornam suportáveis.
(a outra hipótese é estar a perder a batalha. também pode ser isso. eu que nunca ganhei nada.)
sem surpresa, sorri generosamente a cada condescendência. engoli, sem me engasgar, a frase da praxe. também sou isto.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

em abril chovem coisas boas

Depois de ter sido publicada uma pequena fotogaleria minha no rascunho eis que a dupla lina & nando me menciona no "oh! isto é tão contemporâneo".

quarta-feira, 21 de março de 2012

rotina

volto a ter como passagem obrigatória a descida até à estação dos anjos. descida ao anjos. outro nome para o purgatório. desvio o olhar das putas da esquina. olho para o outro lado, mas não há maneira de não descer. e a descida é passagem solitária. é carruagem definida, que não descarrila. desde o que voltei a descer ao limbo apenas uma vez me foi negada entrada. suicídio. nestes casos o portão fecha-se e a estação fica consigo mesma, a tratar dos seus mortos. dos mortos que incomodam os vivos. que lhes negam os seu purgatório diário.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

domingo, 15 de janeiro de 2012

Leituras passadas

"Eu tinha cinquenta anos e há quatro que não ia para a cama com uma mulher. Não tinha amigas. Quando passava por elas, na rua ou onde quer que as via, olhava, mas olhava sem desejo e com desinteresse. Masturbava-me regularmente, e a ideia de ter uma relação com uma mulher - mesmo em termos não sexuais - estava muito longe da minha imaginação. Eu tinha uma filha ilegítima, com seis anos de idade. Ela vivia com a mãe e eu pagava uma pensão. Casara-me aos 35, há alguns anos atrás. Este casamento durou dois anos e meio. A minha mulher divorciou-se de mim. Só estive apaixonado uma vez. Ela morreu de alcoolismo crónico. Morreu aos 48, quando eu tinha 38. A minha mulher era 12 anos mais nova do que eu. Acredito que também ela esteja morta, embora não tenha a certeza. Durante seis anos, depois do divórcio, ela escrevia-me pelo Natal uma longa carta. Nunca respondi..."

Charles Bukowski, Mulheres

(Gostei mesmo deste primeiro parágrafo, depois aborreci-me, a longa e rotineira lista de mulheres parecia nunca mais acabar. cheguei ao final do livro a pensar que já não tenho idade para este peditório.)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Leituras passadas

O Reino


"O que mais assustava Klaus era esse modo infalível de cópia. O facto de uma arma conseguir, nas mesmas condições, repetir exactamente o mesmo som com duas balas diferentes. Era essa a possibilidade que o assustava e o fazia temer essa terceira linguagem, mais do que as outras. Porque a possibilidade de cópia exacta, de repetição perfeita, era uma suspensão evidente do tempo habitual, do tempo que os humanos e a natureza conhecem: o tempo que avança, que muda, que altera as coisas."

Gonçalo M. Tavares, Um Homem: Klaus Klump


" Era evidente naquele momento que a memória estava intimamente ligada ao espaço. A memória era uma qualidade do espaço, não dos homens. Qualidade simples como são o comprimento, a largura e a altura. A memória é a quarta qualidade imediata do espaço, disse Walser para si próprio, como se estivesse a descobrir algo relevante."

Gonçalo M. Tavares, A máquina de Joseph Walser


"Levantou-se. Mylia era uma mulher magra, mas forte. Não utilizava os dedos para ninharias. (Muitas vezes repetia a frase: não utilizar os dedos para ninharias.)
Concentrava-se; sabia que tinha poucos anos de vida; a doença veio: ficamos juntas uns anos, depois ela permanece e eu parto. Pois bem, havia de concentrar a energia que existe nos dias ou que existe num corpo e se dirige aos dias, concentrá-la - à energia - como a um rolo de carne, estar pronta para agir. Dispensando ninharias. Os dedos devem tocar só no que é espesso, no que é fundamental; o urgente tem de coincidir com o essencial, com o que altera de alto a baixo. "

Gonçalo M. Tavares, Jerusalém


"Suspender era o verbo por excelência do poder, do rei que pode colocar o polegar para baixo determinando a execução de um prisioneiro, mas que no último momento decide suspender o gesto. Não se arrepende, vai apenas pensar. É o ainda não, ou, o mais terrível: por enquanto não.
Este por enquanto não, e disso Lenz tinha plena consciência, tinha claramente um alcance maior do que a mera execução definitiva; poderia manter uma cidade inteira debaixo do seu domínio."

Gonçalo M. Tavares, Aprender a rezar na Era da Técnica

(re)começo

2012 começa devagar, muito devagar... a "eu" das 9h às 18h00 acaba com a outra "eu", coisinha de nada. O ano começou desencontrado e eu guardo, como se perder isso significasse perder-me a mim, todas as coisas que queria dizer e dar às pessoas que não fui capaz de ver. Tenho muitas coisas para dizer à j. e a v., mas parece que as palavras ganham cola e, frustrada, remeto-me ao silêncio. Para o f. e a n. guardei outra coisa sem ser palavras, guardei imagem, porque entre tantas coisas que descobri no final de 2011, foram as palavras de f. primeiro escritas e depois faladas e a ternura de n. das coisas que mais me emocionaram. Porque o final de 2011 me parece agora tão mais fácil do que este ano que já começou, atraso a entrada, pego na pilha de livros das leituras passadas e ao procurar as frases que me fizeram parar em 2011, deixo para amanhã o ano novo.