quarta-feira, 22 de julho de 2009

m

m. que é feita de música, só o admite quando escreve e eu vicio-me num mundo transformado em palavra mas onde, na realidade, tudo é sonoridade. m. é música e eu era capaz de ficar dias a ouvi-la... queria apanhá-la assim, com a máquina, quando ela trauteia e sei que pensa em tudo como se da letra de uma canção se tratasse. mas m. não é só isso, é quem me apanha desprevenida, com a resposta para a pergunta que me vai atormentando... o trabalho perfeito para ti... e não é que me imagino mesmo ali, onde ela também me imaginou, apesar de ter passado a semana a pensar que, no final, não encaixo em lado nenhum.

escrito depois de ter visto o mail que mais me fez sorrir esta semana...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

outras leituras

Years later he'd stood in the charred ruins of a library where blackened books lay in pools of water. Shelves tipped over. Some rage at the lies arranged in their thousands row on row. He picked up one of the books and thumbed through the heavy bloated pages. He'd not have thought the value of the smallest thing predicated on a world to come. It surprised him. That the space which these things occupied was itself an expectation.

Cormac McCarthy, The Road

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Yann Tiersen no CCB

hoje, é isto que estou a perder.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

ainda nas coincidências


Fui vê-lo à Trama, depois de uma semana calejada por histórias semelhantes. Na livraria as coincidências são inevitáveis, a única coisa que realmente sei fazer é ler. Encontrei A Viagem ao Fim da Noite com uma capa decente (e as discussões que já tive à conta da capa medonha da edição que possuo), quase o comprei só por causa disso... um livro lixado, lido em dois dias na primeira semana em Colónia e que ainda hoje ando a remoer, há coisas que não se esquecem, há solidão que só se descreve pelo que se leu. E depois foi o distribuir da letra Mulheres de Atenas e eu que não ouvia Chico Buarque, engulo em seco cada vez que a música toca e volto atrás no cd e oiço-a novamente, uma letra daquelas e há quem não goste... idiotas. Não há gender chicks em M.B., só reflexos pálidos de mulheres de atenas.

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas

Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas, não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas


quarta-feira, 1 de julho de 2009

coincidências

















Não sei se é do silêncio, mas esbarro com coincidências subtis, como se as mesmas histórias andassem a ser repetidas, susurradas, presentes em tudo o que faço... o Tchítchikov sem moral de Gogol foi substituído pelo Consul de Lowry. A visão do inferno repete-se. A vontade de redenção está opressivamente presente em Geoffrey, o inexorável falhanço certo desde a primeira página. Sem surpresa a salvação nunca chegou a ser uma possibilidade nas Almas Mortas. Conclusão: não há finais felizes. O sentimento de angústia aloja-se num canto escondido da minha memória. Nos Morangos Selvagens de Bergman vejo que Marianne veio tomar o lugar Yvonne. A imagem das mulheres sofridas, impenetráveis cola-se ao espírito como uma sombra, a angústia alastra-se.