tag:blogger.com,1999:blog-155837282024-03-13T11:59:49.285+00:00nimbostratusa.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.comBlogger1110125tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-24925637437125312962014-11-29T19:25:00.007+00:002014-11-29T19:29:50.725+00:00leituras<div style="text-align: justify;">
"I let myself out and I went along the walk. It felt funny walking around outside in my nightgown and my robe. I thought to myself that I should try to remember this, walking around outside like this."</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Raymond Carver, <i>I Could See the Smallest Things</i></div>
<div style="text-align: right;">
(in <i>What We Talk About When We Talk About Love</i>)</div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-22364678413019777192014-11-27T21:11:00.001+00:002014-11-29T19:30:25.988+00:00leituras<div style="text-align: justify;">
"És uma criaturinha triste, eu próprio sou um tipo diabolicamente melancólico, e desta forma o nosso amor terá, imagino eu, de ser do género triste." </div>
<br />
<div style="text-align: right;">
James Joyce, carta a Nora (1 de Novembro 1909)</div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-67387003185229222202014-11-25T19:48:00.000+00:002014-11-25T19:48:44.678+00:00leituras<div style="text-align: justify;">
"Tosse</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eis pois como as coisas se passaram: a palavra "liberdade" passava de boca em boca e crescia, crescia, crescia. Até que alguém tossiu e a ordem foi restabelecida."</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Rui Manuel Amaral, <i>Caravana</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-27015451115549483282014-11-24T23:38:00.003+00:002014-11-24T23:38:36.332+00:00leituras<div style="text-align: justify;">
"Mas os teólogos deparam-se com um problema, quando definiram o Homem-Deus com um conceito fulcral da linguagem teatral, ou seja, persona ou, em grego prósopon. Esta tradução só era então possível, proibindo, ao mesmo tempo, a sua origem a partir do teatro. Só assim podiam os teólogos utilizar, sem risco, o conceito para a pessoa de Cristo, a qual se expressava na sua face e que, todavia, não era um simples papel teatral. A analogia com o teatro era, porém, demasiado óbvia para ser simplesmente esquecida: o conceito deveria tão-só adquirir um novo conteúdo conceptual. Os mesmos teólogos, que se distinguiam na definição de Cristo, atacaram, por isso, o teatro de máscaras contemporâneo, cujos dias estavam, por isso, contados. Tertuliano, que já reclamara para Cristo o conceito de pessoa, investiu contra o recurso de máscaras (opus personarum), já que Deus proibia toda a imitação da sua criação como falseamento. O homem como sua imagem (imago sua), era ofendido pelo jogo de máscaras." </div>
<div style="text-align: right;">
Hans Belting, <i>A verdadeira imagem</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-52802090189451186782014-09-16T21:16:00.007+01:002014-09-16T21:22:49.052+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
"Afastei-me em direcção a um fogo, e o fogo estava sempre diante de mim, como um muro de luz. Era um fogo frio, um fogo que traz frio em vez de calor, um fogo que transforma logo a água em gelo. Com a velocidade do raciocínio, o pensamento-fogo que considera o gelo cria nesse momento o gelo. Foi precisamente desta maneira que a Sibéria surgiu, e as auroras boreais são disso o último vestígio luminoso. É esta a explicação. Certos sinais de rádio confirmam-na, sobretudo os sinais de intervalo. Também o fim de emissão da televisão, quando há estática e os pontos dançam, tem o mesmo significado. E agora: todos os cinzeiros de volta ao mesmo lugar e manter a compostura! Os homens falam sobre caça. A empregada enxuga a loiça."</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Werner Herzog, <i>Caminhar no Gelo</i></div>a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-21500980116744519912014-07-30T20:32:00.003+01:002014-07-30T20:37:30.300+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
"Uma terceira pessoa cheia daquela fé suave e crepitante e grata e tranqüila, Laura, a da golinha de renda verdadeira, vestida com discrição, esposa de Armando, enfim um Armando que não precisava mais de se esforçar a prestar atenção em todas as suas conversas sobre empregada e carne, que não precisava mais de pensar na sua mulher, como um homem que é feliz, como um homem que não é casado com uma bailarina."</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Clarice Lispector, <i>A Imitação da Rosa</i> em <i>Laços de Família</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-51533659749140236472014-07-30T20:27:00.001+01:002014-07-30T20:37:56.964+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
"Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura [...]"</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Clarice Lispector, <i>A Hora da Estrela</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-19844222525145289142014-07-21T23:32:00.000+01:002014-07-21T23:48:56.919+01:00...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBQ3rawx7MJglhGelXSJbKdwq3Uf4T9McW4nYm8XOo2q2SVz3OjtVB-qEoEdfEp9-LZb38Wpp90jYhFwIHf3QIcx8JhewTWsFaxUkla3iQKOFgNS4NIG1i_dHLalojBTQVHZLS/s1600/000045.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBQ3rawx7MJglhGelXSJbKdwq3Uf4T9McW4nYm8XOo2q2SVz3OjtVB-qEoEdfEp9-LZb38Wpp90jYhFwIHf3QIcx8JhewTWsFaxUkla3iQKOFgNS4NIG1i_dHLalojBTQVHZLS/s1600/000045.JPG" height="434" width="640" /></a></div>
<br />
junho 2014a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-34745973847083748102014-07-21T23:29:00.001+01:002014-07-21T23:29:15.042+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
"A rua é a transformadora das línguas. Os Cândido de Figueiredo do universo estafam-se em juntar regrinhas para enclausurar expressões; os prosadores brandam contra os Cândido. A rua continua, matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos <i>léxicons</i> futuros."</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
João do Rio, <i>A alma encantadora das ruas</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-7229045205204202012014-04-07T13:29:00.003+01:002014-04-07T13:29:52.424+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
"A fotografia não se tornou uma arte por pôr em acção um dispositivo opositor da marca dos corpos à sua cópia. Tornou-se arte ao explorar a dupla poética da imagem, ao fazer das suas imagens, simultaneamente, ou separadamente, duas coisas: os testemunhos visíveis de uma história escrita sobre os rostos ou os objectos; e puros blocos de visibilidade, impermeáveis a qualquer narrativização, a qualquer travessia de sentido."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Jacques Rancière, <i>O destino das imagens</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-53133189955305197552014-04-07T13:25:00.000+01:002014-04-07T13:25:07.222+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
"Há visibilidade que não faz imagem, há imagens todas elas feitas de palavras."</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Jacques Rancière, <i>O destino das imagens</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-31378726976761614492014-04-07T13:23:00.003+01:002014-04-07T13:23:31.056+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
"O rosto não é separável do corpo, em rigor, não é uma parte do corpo (embora a cabeça o seja), mas pode ser desfigurado. Lembre-se a ópera Jenufa de Janácek. Na morte, tal como se compreendeu o primeiro poema da humanidade, Epopeia de Gilgamesh, o rosto transforma-se em argila, em terra, isto é, perdeu o poder de olhar e de respoder ai olhar. Quanto à conversão do todo em rosto, lembre-se a criança dentro das águas maternas que permeia todo o universo final de 2001 - Odisseia no Espaço de Kubrick."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Maria Filomena Molder, <i>Símbolo, Analogia e Afinidade</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-19918820842441150522014-02-03T22:32:00.001+00:002014-02-03T22:32:41.845+00:00das séries possíveis<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUV2qtR6bDvA3pSSDGeABbQU30genB9HW-yPXfMWd5WuWXhWSnXRbp-nWFqm7LdGKO6JRam_jOLLKbG88Hkg1c7u0Au6PDBNU1nv2HSmrMVpQ_JzVjFl06mB2CafLLtzzsbAQa/s1600/000048.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUV2qtR6bDvA3pSSDGeABbQU30genB9HW-yPXfMWd5WuWXhWSnXRbp-nWFqm7LdGKO6JRam_jOLLKbG88Hkg1c7u0Au6PDBNU1nv2HSmrMVpQ_JzVjFl06mB2CafLLtzzsbAQa/s1600/000048.JPG" height="434" width="640" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
a paisagem pouco exótica presta-se a isso. sem o ruído do verdadeiramente desconhecido reconheço repetições em lugares pelos quais nunca tinha passado. têm um grau de estranheza própria, demasiado pequeno para as nomear numa conversa, suficiente para serem remetidas para uma lista. </div>
<div style="text-align: justify;">
(fiquei com uma série sobre campos de futebol por fazer.)</div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-77782586127487663572013-11-25T22:55:00.002+00:002013-11-25T22:56:00.977+00:00sete anos<div style="text-align: justify;">
sempre tive dificuldade em decorar nomes e datas. são coisas que me fogem a uma velocidade vergonhosa. poderia ter feito listas das músicas de que mais gosto ou das datas de que gostava de não me esquecer, mas sem saber bem porquê essas listas nunca me pareceram relevantes e acabo sempre por me remeter a um silêncio ignorante quando me perguntam por elas.</div>
<div style="text-align: justify;">
ao contrário dos nomes e das datas, a lista de "perguntas a que a dado momento perdi a resposta" é uma das decoradas com assombrosa exactidão. hoje reencontrei uma das respostas há muito perdidas: sete anos. é esse o tempo que demora a que todas as células do nosso corpo morram e sejam substituídas por novas. (porque me lembro da altura exacta em que quis recordar-me desta resposta e não consegui sei que a fiz numa altura em que era materialmente outra - onde guardamos quem somos?)</div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-43249294530516801852013-11-05T13:15:00.004+00:002013-11-06T14:59:24.198+00:00...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCdJ2ili1fV22JA3gJ0_sslDJkT6cl-8dqhKTQ7hUpTjX9OXCOuq8Z5WYn05EoNuaQMOmoPWtwiR-SQgTOncE1YZjBhmdW_lOFdGKouyyw70GaIMRUWfr35QtKRl-S7xqEGDWS/s1600/000001.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="418" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCdJ2ili1fV22JA3gJ0_sslDJkT6cl-8dqhKTQ7hUpTjX9OXCOuq8Z5WYn05EoNuaQMOmoPWtwiR-SQgTOncE1YZjBhmdW_lOFdGKouyyw70GaIMRUWfr35QtKRl-S7xqEGDWS/s640/000001.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
andava escondida no cabeçalho deste blog até ter sido resgatada - de forma completa - por culpa de metade da dupla <a href="http://linaenando.blogspot.pt/">Lina&Nando</a>.a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-61103481513047043262013-10-21T21:20:00.002+01:002013-10-21T21:20:59.200+01:00coincidências<div style="text-align: justify;">
esta sensação de esbarrar ao de leve com coincidências (não sei, na verdade, se isso é possível - esbarrar ao de leve -, mas é qualquer coisa como as manhãs particularmente difíceis no metro, a tentar sair na paragem correcta) parece-me sempre resultado de horas excessivas em silêncio. andei a preparar-me para passar uma hora e meia a explicar coisas a um miúdo de 14 anos. claro que, como qualquer miúdo de 14 anos não trouxe nada do que lhe pedi. dei-lhe a escolher entre o livro que ando a ler a caminho do trabalho e o livro de exercícios da aula dele. escolheu o meu livro e escolheu, de todos os ensaios, aquele que lhe parecia o menos mau da lista. lemos o texto várias vezes, tentei arrancar-lhe qualquer coisa que não fossem as palavras rapidamente decoradas. tentei que ligasse o que quer que fosse de forma menos óbvia. a última pergunta que lhe fiz pareceu-me previsível. perguntei-lhe qual seria o significado do título. achei que era demasiado fácil para ele se esquivar à resposta. sorriu envergonhado, também ele achou a pergunta fácil. suspirei com algum alívio, esperei que me respondesse "morte" e que relacionasse o conceito com o que tinha lido. ele respondeu-me "amor". </div>
<div style="text-align: justify;">
o ensaio que lemos é dos últimos do livro, coisa difícil sobre o trabalho do Rui Chafes, ontem a tentar decidir se revejo o currículo, se trabalho só mais uma hora, se volto finalmente a correr, olhei para os ensaios e não fui capaz de pegar neles. peguei antes no fausto do Thomas Mann (haverá mito onde a morte e o amor estejam em pontos mais extremos?). hoje, a caminho do trabalho voltei aos ensaios:</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
"A acreditar no gélido deserto de Adrian Leverkühn, o riso diabólico é frio, mas este riso, que impregna o intervalo entre a visão e o nome, consagra todas as temperaturas, omnívoro: <i>caldarium</i>,<i> temperarium</i>,<i> frigidarium</i>, como nas termas romanas."</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
(não fosse o miúdo de 14 anos e não saberia reconhecer o riso de Adrian Leverkühn)</div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-35795728112109509252013-10-13T23:16:00.001+01:002013-10-13T23:16:28.661+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
Insultei-me várias vezes por nunca ter aprendido a fazer ligações directas com o pessoal da terra que andava aos tractores. Erros que se cometem quando se é novo e não se percebe que é preciso aprender de tudo. Prometi-me levar o miúdo à terra um dia e ensinar-lhe a matar um porco, varejar azeitonas, pegar fogo à mata, roubar vinho, roubar galinhas, encontrar o caminho para casa embriagado, sem luzes, levado pelo cheiro das cabras, ganhar à sueca, fazer fisgas, fugir à guarda, não comer fruta do chão, reconhecer o caminho das pedras no rio, sacar moças nos bailes, mudar o óleo, tirar água do poço e uma bezerra da barriga da mãe, levar uma galheta sem chorar nem baixar os olhos, fazer corridas de tractor, baldar-se à missa sem dar nas vistas, aliviar as caixas das esmolas e as hóstias do sacristão, ir aos caracóis e às amoras, marcar terras, tudo aquilo que faria dele um homem melhor, mais preparado. Coisas que só se aprendiam na terra, nos meses eternos de Verão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Ricardo Adolfo, <i>Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-82703009713593017702013-10-13T22:51:00.004+01:002013-10-13T22:51:51.160+01:00leituras<br />
<br />
Os intervalos<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Não coleccionamos transições - caminhadas entre um sítio e outro. Tal incapacidade, pois disso se trata, é, entre várias, uma das que mais nos menoriza. Memorizamos tranquilamente - nos nervos internos treinados para tal tarefa - um sítio e outro, um sentimento e o que surge a seguir, os amantes consecutivos, um dia e o seguinte (domingo, segunda), mas o que está entre o visível, o nomeável e o memorizável perde-se - sem textura nem ocupação mínima do espaço que permita tornar credível, aos olhos dos outros, a sua colecção. E o que não podemos mostrar não existe.</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Gonçalo M. Taveres, <i>Breves Notas sobre o medo</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-76316226409642034342013-10-02T13:54:00.000+01:002013-10-02T13:54:33.681+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
<b>«Perdem-se os pensamentos que guardamos para nós.» (MFM)</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lilith guarda na mão uma navalha para aparar a ideia. Uma navalha mitológica, proprietária de um corte imaterial, mas intenso; uma exactidão invisível não deixa de ser exacta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não é uma<i> eficácia louca</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a eficácia não é um objecto que possas agarrar e guardar. Se o fosse, todos os seres vivos seriam eficazes. A eficácia está alojada no tempo e não no espaço. E o que não está no espaço não se pode guardar. O que habita o tempo é intocável, e é o mais essencial. O que podes guardar não é importante; o que tem volume, altura, largura pode ser guardado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os pensamentos habitam o tempo. Utilizam o tempo para existir, tal como o fruto utiliza a árvore para existir. Não há solo onde pousem os pensamentos, a não ser que consideres o cérebro uma instituição compacta, de onde as coisas não caem.</div>
<div style="text-align: justify;">
Escrever, desenhar: são ocupações evidentes do espaço. Do espaço magro que é uma folha, mas espaço.</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma ideia não desenhada nem escrita não ocupa espaço, ocupa tempo. O cérebro é um espaço onde diversos fenómenos temporais ocorrem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma ideia não tem lado direito ou esquerdo. Não tem peso ou volume, forma ou cor. Uma ideia tem segundos, ou minutos, por vezes horas, ou dias inteiros, meses.</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma ideia não é curva nem é uma recta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lilith atravessou um caixão aberto, correu de um lado ao outro do caixão aberto. Apenas dois metros de comprimento: duas sensações estranhas: correr em espaço tão curto e esse movimento intenso dentro de uma caixa feita para guardar a imobilidade. Um exercício filosófico:<i> correr dentro de um caixão</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De noite, Lilith era uma mulher que fazia barulho com as ideias. Incomodava os vizinhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Baixa o volume das ideias, alguém lhe disse.</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma ideia alta, uma ideia baixa.</div>
<div style="text-align: justify;">
O interessante na inteligência é o modo como esta agarra qualquer objecto. As coisas não têm apenas uma pega, como as chávenas de café, as coisas do mundo são pegáveis por todos os lados, em todos os tempos, e pelos mais estranhos instrumentos: desde a mão, à pinça, às diversas tenazes. Estamos a ser agarrados por todo o lado, como se fôssemos loucos ou deixássemos que os outros o fossem sobre nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
Queres ser louco sobre mim?</div>
<div style="text-align: justify;">
Eis a permissão mais generosa: Lilith aceitava que cada um pousasse sobre ela a sua loucura individual.</div>
<div style="text-align: justify;">
Podes ser louco à vontade, não contarei a ninguém.</div>
<div style="text-align: justify;">
Só as grandes amizades permitem a loucura.</div>
<div style="text-align: justify;">
A loucura <i>como teste</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda não sei se és meu amigo pois ainda não fiquei louco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Gonçalo M. Tavares, <i>Breves Notas sobre as ligações (Llansol, Molder e Zambrano)</i></div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-56673497947780189282013-09-24T22:22:00.000+01:002013-09-24T22:22:28.523+01:00leiturasA verdade e os desenhos<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
É mais verdadeiro desenhar o verdadeiro ou escrevê-lo?</div>
<div style="text-align: justify;">
Poderá parecer ridícula a pergunta, mas o facto é que a ciência considera que é mais verdadeiro escrever o verdadeiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ou outra questão: é possível escrever aquilo que é verdadeiro sobre um fenómeno e é impossível desenhá-lo ou fotografá-lo?</div>
<div style="text-align: justify;">
Será o bom pintor incapaz de pintar a verdade?</div>
<div style="text-align: justify;">
Será que as letras, será que o alfabeto se encontra mais próximo da verdade - será que é mais verdadeiro que as manchas, os traços e a cor?</div>
<div style="text-align: justify;">
[E o mais estranho de tudo isto é que há uma infinidade de línguas (uma infinidade de associações de letras para a verdade de uma coisa) enquanto se desenhares um corpo humano todos o entenderão.]</div>
<div style="text-align: justify;">
Há algo de estranho, diremos até: há algo de místico na convicção de que a palavra descreve melhor a verdade do mundo (ou que se aproxima mais dela).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Gonçalo M. Tavares, <i>Breves Notas sobre ciência</i></div>
<br />
<br />a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-63390059163552171092013-09-24T21:59:00.000+01:002013-09-24T22:00:06.190+01:00...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJxPbjZ55enjriFUFI8M3ZQq91v9tADa-721e00m8VUlfS_AtsVD45kvh5ilIsdY4cSnJEQqBxxFFsVZDoYjag_mRpgPLpKkCQ97VFi66cgVBcYSLFkfXT9Ot6gtp8CpbkSCdE/s1600/calvin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJxPbjZ55enjriFUFI8M3ZQq91v9tADa-721e00m8VUlfS_AtsVD45kvh5ilIsdY4cSnJEQqBxxFFsVZDoYjag_mRpgPLpKkCQ97VFi66cgVBcYSLFkfXT9Ot6gtp8CpbkSCdE/s1600/calvin.jpg" /></a></div>
<br />a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-55241982681171131652013-09-10T21:39:00.002+01:002013-09-10T21:39:51.203+01:00leituras<div style="text-align: justify;">
"Mario'd fallen in love with the first Madam Psychosis programs because he felt like he was listening to someone sad read out loud from yellow letters she'd taken out of a shoebox on a rainy P.M., stuff about heartbreak and people you loved dying and U.S. woe, stuff that was real. It is increasingly hard to find valid art that is about stuff that is real in thus way. The older Mario gets, the more confused he gets about the fact that everyone at E.T.A. over the age of about Kent Blott find stuff that's really real uncomfortable and the get embarrassed. It´s like there's some rule that real stuff can only get mentioned if everybody rolls their eyes or laughts in a way that isn't happy."</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: right;">
David Foster Wallace, <i>Infinite Jest</i></div>
<br />
<span style="font-size: x-small;">(Desde o início, as minhas duas personagens favoritas.)</span><br />
<div>
<br /></div>
</div>
a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-77352532469456082042013-09-09T15:13:00.000+01:002013-09-09T15:13:13.089+01:00notas (para um plano)2. a necessidade de definir um tempo para as imagens, obriga a que o espaço que elas ocuparão tenha também de ser definido (não existe tempo sem espaço).a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-91595096666175384482013-09-08T15:24:00.002+01:002013-09-09T15:13:22.681+01:00notas (para um plano)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4xjJf0bZC7FpukfYwzu8N3YvE-cY4ZaIaWjsXeMtDWg7xznVwBemzHBU2hrP-ohE7w_8DvqHfotzO1TrMfv1_zt3gE6Hu0NAIm0NROfVT5dJQx2OsG5qILZuNQv7q4sufV5LQ/s1600/000024.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="434" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4xjJf0bZC7FpukfYwzu8N3YvE-cY4ZaIaWjsXeMtDWg7xznVwBemzHBU2hrP-ohE7w_8DvqHfotzO1TrMfv1_zt3gE6Hu0NAIm0NROfVT5dJQx2OsG5qILZuNQv7q4sufV5LQ/s640/000024.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
1. há sítios a que tenho de voltar muitas vezes até os conseguir ver.a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-15583728.post-83352091471525299812013-09-05T14:52:00.002+01:002013-09-05T14:52:27.102+01:00pausa para almoço<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyWGM1l5HcvMnxOBqlu5YQ98XVVwxTKrq4O3-dZoXdPLfzYTcr_a2B7r_ht_Pm7wPq7ZPVwITi5QrzhddoOf2AVRXowY0-hsP9FgGriKEVntwsXFhKBtMnS66lBoMRtAgBNYXM/s1600/Helvetica+LT+Std+Black.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="434" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyWGM1l5HcvMnxOBqlu5YQ98XVVwxTKrq4O3-dZoXdPLfzYTcr_a2B7r_ht_Pm7wPq7ZPVwITi5QrzhddoOf2AVRXowY0-hsP9FgGriKEVntwsXFhKBtMnS66lBoMRtAgBNYXM/s640/Helvetica+LT+Std+Black.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
Há coisas novas por <a href="http://nimbostratusdooutroladodoespelho.tumblr.com/">aqui</a>.<br />
<br />
A transformação da fotografia em cartaz é da responsabilidade da dupla <a href="http://linaenando.blogspot.pt/">Lina&Nando</a>.a.http://www.blogger.com/profile/08978048015937452955noreply@blogger.com0