sexta-feira, 29 de outubro de 2010

leituras

Passado algum tempo, Haze levantou-se e começou a caminhar de volta à cidade. Demorou cerca de três horas a alcançá-la. Quando lá chegou, parou numa loja de ferragens e comprou um balde de lata e um saco de cal, e depois seguiu para a casa onde vivia carregando estes produtos. Quando chegou, Haze deteve-se no passeio, abriu o saco de cal e encheu metade do balde. Depois, foi até uma torneira que havia perto dos degraus da entrada, encheu o resto do balde com água e subiu os degraus. A senhoria estava sentada no alpendre, embalando o gato.
«Qu'é que vai fazer co' isso, senhor Motes?», perguntou ela.
«Vou cegar-me», disse ele, entrando em casa.
A senhoria deixou-se ficar sentada durante mais algum tempo.
Não era mulher que sentisse maior violência nesta palavra ou naquela. Ela dava a cada palavra a mesma neutralidade, para ela eram todas iguais. Mas ainda assim, em vez de se cegar, se ela se sentisse assim tão mal matava-se, e não percebia porque haveria alguém de fazer diferente. Se fosse ela, teria simplesmente metido a cabeça num forno, ou talvez tomasse demasiados comprimidos para dormir e pronto. Talvez o senhor Motes estivesse apenas a ser desagradável, senão que razão é que uma pessoa pode ter para querer destruir assim a vista? Uma mulher como ela, que via tão bem, nunca suportaria ser cega. Se tivesse de ser cega então mais valia estar morta. Ocorreu-lhe então de repente que quando morresse ficaria também cega. E, assustada, fitou o mundo à sua frente intensamente, encarando este facto pela primeira vez. E então recordou a expressão «morte eterna» que os pregadores utilizam, mas imediatamente a apagou da sua cabeça, sem nunca mudar a expressão do rosto mais do que o gato.

Flannery O'Connor, Sangue Sábio

terça-feira, 26 de outubro de 2010

desabafo

É difícil continuar a coleccionar as pequenas coisas que me fazem parar e reflectir (acho que este blog nunca foi mais do que isso). gosto de livros, de filmes e de fotografias e nunca quis escrever sobre outra coisa, mas com o país permanentemente à beira do colapso, confesso que se torna cada vez mais complicado.
Nunca li tanto sobre finanças, sobre economia, sobre o que o governo propõe e sobre as alternativas possíveis. O primeiro impulso é sair daqui, fazer as malas, desistir. Depois penso em todas as pessoas que conheço com vontade de arregaçar as mangas e fazer qualquer coisa, que afastam o fatídico que tão rapidamente nos caracteriza. Há ideias, projectos, coisas bem feitas.
Por mais que o escrevam ou que o digam, continuo a discordar a alto e bom som: um país não é uma empresa, não vai falir, fechar as portas e por a leilão os bens que restarem.

p.s. voltarei aos posts em breve - ainda acho que vale a pena ir partilhando as coisas de que gosto (confesso que o faço cada vez mais como técnica de guerrilha, contra as permanentes actualizações sobre o pequeno almoço ou o estado de espírito que me brinda o facebook), pelo menos enquanto houver dez leitores do outro lado andarei por aqui.

sábado, 9 de outubro de 2010

encantador


não é um filme genial. mas está cheio de pequenos pormenores perfeitos.

p.s. gosto do kevin kline, que neste filme está velho, gordo e doente. gosto dele na mesma. passei a gostar da sandrine bonnaire, que não conhecia.

espionagem

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Os vícios são lixados - ou como o cinema com desconto me desgraça

Fui comprar bilhetes para duas sessões, saí do são jorge com o cartão para dez.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

100 anos

Provavelmente sou uma romântica mas este é um dos meus feriados preferidos.

(Liguei o facebook à espera de o ver cheio de "Likes" a esta senhora, mas só vi a mesma parvoíce de sempre.)