Os intervalos
Não coleccionamos transições - caminhadas entre um sítio e outro. Tal incapacidade, pois disso se trata, é, entre várias, uma das que mais nos menoriza. Memorizamos tranquilamente - nos nervos internos treinados para tal tarefa - um sítio e outro, um sentimento e o que surge a seguir, os amantes consecutivos, um dia e o seguinte (domingo, segunda), mas o que está entre o visível, o nomeável e o memorizável perde-se - sem textura nem ocupação mínima do espaço que permita tornar credível, aos olhos dos outros, a sua colecção. E o que não podemos mostrar não existe.
Gonçalo M. Taveres, Breves Notas sobre o medo
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