O Times estava lá quando Maria Antonieta foi morta
O diário britânico pôs online os seus arquivos desde 1785
l É como estar à beira de um precipício com uma sensação mista de vertigem e excitação. À nossa frente, graças a um punhado de clics, revelam-se 200 anos de história. Não a história recontada, reescrita, mas aquela que foi impressa no momento em que era realidade. O jornal britânico The Times, fundado em 1785 por John Walter, permite desde 13 de Junho esta embriaguez ao tornar acessível, gratuitamente, a consulta dos seus arquivos desde o seu nascimento, em 1985.Edição de 23 de Outubro 1793: "Execução da rainha de França." "A execução [de Maria Antonieta] realizou-se às 11h30 da manhã. Todas as forças armadas estavam em pé de guerra, do palácio da Justiça à praça da Revolução [...] Depois da execução, três jovens molharam os lenços no seu sangue. Foram imediatamente presos." A edição de 22 de Junho de 1815 revela detalhes sobre Waterloo, onde Napoleão foi derrotado quatro dias antes. Um artigo começa assim a 1 de Outubro de 1888: "Ontem, nas primeiras horas da manhã, ocorreram mais dois assassinatos no East End de Londres, sendo que as duas vítimas pertenciam à mesma classe social. A polícia não tem dúvidas. Estes terríveis crimes foram cometidos pelas mesmas mãos diabólicas que tornaram Whitechapel tão dolorosamente célebre." Jack, o estripador, tinha atacado de novo. A prisão de Óscar Wilde, a catástrofe do Titanic, o crash da bolsa de 1929, o desembarque na Normandia, a condenação a prisão perpétua de Nelson Mandela... Da revolução francesa à Guerra das Malvinas, passando pela guerra civil americana e as duas guerras mundiais, todas as páginas do jornal foram digitalizadas e apresentadas sobre o formato de fac-símile.Graças a um programa de reconhecimento de caracteres, o internauta até tem a possibilidade de fazer uma busca dentro dos textos por palavra-chave. Os números que saíram a partir de 1985 serão acrescentados a este arquivo até ao fim do ano, bem como todas as páginas do Sunday Times depois de 1822. Ao revisitar o passado, o diário fez algumas descobertas inesperadas, como uma carta escrita ao jornal em 1938 por Ian Fleming (o criador de James Bond). Apesar da quantidade de informação, existem algumas lacunas na longa história do The Times, propriedade do magnata dos media Rupert Murdoch desde 1981. Cinquenta semanas de greve impediram a sua saída para as bancas entre 1 de Dezembro de 1987 e 12 de Novembro de 1989. O jornal "pede desculpa se estas datas coincidem com o seu aniversário ou um outro acontecimento sobre o qual tivesse interesse de ler".Para já tudo isto é gratuito, mas deverá ser sol de pouca dura. Em Novembro de 2007, um outro jornal britânico, o Guardian, pôs em linha os seus arquivos desde 1821 (até 1990) e os do Observer, o jornal de domingo mais antigo do mundo (foi para as bancas pela primeira vez em 1791)."É a primeira vez que um jornal nacional britânico disponibilizou os seus arquivos de papel na Internet", explicou na altura o Guardian. "Antes, a única maneira de explorar os arquivos dos jornais passava pela pesquisa das páginas impressas, guardadas em microfilmes."Durante um mês os arquivos do Guardian estiveram disponíveis gratuitamente mas agora é preciso pagar para ver a um preço proporcional à antiguidade dos jornais.
Frédérique Rousell
Exclusivo PÚBLICO/Libération
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