quarta-feira, 30 de novembro de 2005



"If you put frightening things into a picture,then they can't harm you.In fact, you end becoming quite fond of them."- Paula Rego

domingo, 27 de novembro de 2005

sábado, 26 de novembro de 2005

Bom dia!

Está a nevar em Köln! Bela maneira de começar o dia. :)

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Bom dia

Hoje chega a Catarina a Köln..... com ela, um cheirinho de Portugal a esta nuvem de pensamentos.

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe
quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Fim-de-semana em Hamburg









O lado positivo da organização alemã

Antes de vir para a Alemanha não imaginava a quantidade de burocracia que estava à minha espera, tive de abrir uma conta num banco alemão, passei horas em filas de escritórios para alunos estrangeiros à espera do meu cartão de estudante, dos papéis para o curso de alemão, das informações sobre a minha nova casa, enfim, imaginei que num país conhecido pela sua organização tudo seria mais fácil.

Porquê falar de tudo isto agora? Porque fui agradavelmente surpreendida este fim-de-semana. Em outubro inscrevi-me através da universidade para uma viagem a Hamburg, o preço era convidativo, a cidade desconhecida e era mais uma oportunidade para viajar com os meus novos amigos. Este fim-de-semana chegou finalmente a altura de viajar, à hora marcada (8h da manhã) estavam à nossa espera um mini-bus (da mercedes, claro!) e duas pessoas da faculdade. Tinhamos pela frente uma viagem de mais ou menos 5 horas, e todos tinham pressa de entrar no autocarro para recuperarem algumas horas de sono, mas 5 minutos após o início da viagem, tivemos as nossa primeira boa surpresa: foram distribuídos os programas do fim-de-semana e fomos imediatamente confrontados com um exemplo perfeito de como se organiza uma viagem.

A pousada da juventude que à primeira não deixava muito a desejar (estava em obras, a Silvia, claro, disparou logo "pelo preço que pagámos não podíamos estar à espera de outra coisa"), acabou por nos surpreender pela positiva: está situada num dos extremos da antiga muralha da cidade, com uma vista espectacular para o rio, os quartos não podiam ser melhores e para começarmos bem o dia tinhamos um buffet para o pequeno-almoço incluído.

Tivemos uma visita guiada, logo após a nossa chegada, a um dos bairros mais emblemáticos da cidade (St. Pauli) e apesar de já estar de noite (às 5 da tarde), e da temperatura rondar os zero graus, o entusiasmo nunca esmoreceu. A guia era uma alemã energética e decidida, perfeita para relatar a história de um bairro tão controverso. Após duas horas ao frio fomos jantar a uma cervejaria típica alemã, a introdução à cidade não podia ter sido melhor! Acabámos a noite, como não podia deixar de ser, numa kneipe alemã.

Sábado, 8h da manhã encontro para tomar o pequeno-almoço; 9h nova visita guiada, desta vez à parte "nobre" da cidade (tenho de admitir que apesar de ter adorado, e de me ter tornado fã dos guias alemães, duas horas e meia ao frio, mas frio mesmo, -3 graus, foi a parte que mais me custou desta viagem). Para descongelar decidimos ir beber um café, eis se não quando me deparo com um café português, claro que foi mesmo ali que ficámos (e eu, para matar as saudades, pedi uma bica e um pastel de nata). O início da tarde ficou por nossa conta, decidi perder-me pelas ruas que mais me agradaram e encontrei um alfarrabista (escusado será dizer que voltei para Köln com a mochila bem mais pesada), o final da tarde foi outra boa surpresa (para variar) fomos ao teatro ver uma adaptação de Hamlet (era a última peça, integrada num festival de teatro a decorrer na cidade). Acabámos o dia num restaurante indiano, perfeito para conversar animadamente.

Domingo, 7h da manhã encontro para o pequeno-almoço, sim, ainda estava de noite, mas era o nosso último dia, e não queria deixar a cidade sem passar pelo emblemático mercado do peixe e valeu a pena! 10h da mahã, regresso a Köln, surpreendentemente fui a viagem toda a dormir.

P.S. Obrigada Silvia, Julie, Irene, Anne Laure, Francesca, Louis, Aude.... a viagem não teria tido metade da piada sem vocês.

Hamburg




Sinto falta de ir ao cinema

segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Boa noite

De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos

Fernando Pessoa, "Livro do Desassossego"

:)

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Carnaval em Köln!






10...9...8...7...6...5...4...3...2...1!!!!! São 11h11m do dia 11 do 11, começou finalmente a época de carnaval em Köln, milhares de pessoas reunem-se na praça de Heumarkt para ouvir..(?)...não faço a mínima ideia do que estão a dizer...em vez de alemão tudo é dito em kölsch (dialecto de Köln) desde os discursos, às músicas - kölsch é mesmo um mundo, é também o nome da cerveja da cidade (e há 25 tipos diferentes.... mas isso é outra história)
Nós (grupo erasmus) decidimos trazer a gripe das aves a Köln - sim, mascarámo-nos de galinhas doentes - e sem sabermos bem como, tivemos sucesso, acabámos por tirar fotos com um sem número de pessoas que não conhecemos de lado nenhum. Infelizmente os fatos só duraram umas horas - é o que dá não ter dinheiro e termos decidido fazer os nossos próprios fatos. Acabámos a noite a cantar em kölsch e a pensar na festa em fevereiro (é o fim da época de carnaval, a festa dura uma semana inteira!).
Bem.... aqui ficam as fotos!

E-mails :)

Vão ver que vale a pena....

http://www.ad-awards.com/inc/video.swf?id=104 - Ganhou o prémio internacional de anúncios publicitários.

http://www.rocketboom.com/vlog/ - notícias com formato original, divirtam-se!

(Obrigada Vera, obrigada pai)

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Matisse em Düsseldorf


A exposição apresenta as diferentes fases do pintor através de quase duzentas obras de arte... a figura feminina no interior é o tema recorrente, aparecendo tanto enquanto leitora, sonhadora, figura passiva; em ligação com o meio que a envolve ou totalmente destacada do mesmo. A última fase de Matisse, recortes de papel, é sem dúvida, a minha preferida, a mulher aparece enquanto ideal quase abstracto, as formas deixam a definição tradicional e a figura ganha uma leveza fascinante.

(Henri Matisse - Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen, 29.10.2005 - 19.02.2006)

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

quarta-feira, 2 de novembro de 2005