Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação. Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que o livro realiza.
(...) Se lemos um livro antigo, é como se lêssemos todo o tempo que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. Por isso convém manter o culto do livro. O livro pode estar cheio de coisas erradas, podemos não estar de acordo com as opiniões do autor, mas mesmo assim conserva alguma coisa de sagrado, algo de divino, não para ser objecto de respeito supersticioso, mas para que o abordemos com o desejo de encontrar felicidade, de encontrar sabedoria.
Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Livro'
quarta-feira, 28 de setembro de 2005
quinta-feira, 22 de setembro de 2005
Museum für Ostasiatische Kunst
Tesouros da China, Coreia e Japão "escondidos" num paraíso natural no meio da cidade de Colónia.
Este foi o museu que arquitectonicamente mais me impressionou, é um edifício de linhas muito simples, inserido num dos parques da cidade (foi desenhado pelo arquitecto japonês Kunio Maekawa (1905-1986) - aluno de Le Corbusier).
As exposições, de acordo com a visão do fundador do museu Adolf Fischer, não são apresentadas enquanto documentos de uma cultura, mas enquanto obras de arte individualmente consideradas que representam determinado artista ou estilos específicos de uma época histórica. Esta abordagem acaba por levar o visitante a admirar mais a obra de arte que tem diante de si, do que propriamente a fazer uma comparação histórica entre as culturas ocidental e oriental.
Actualmente a exposição temporária chama-se "O céu na ponta do pincel - Pintura Chinesa do séc. xx" - especialmente interessantes são as obras contemporâneas que misturam influências asiáticas e ocidentais.
domingo, 18 de setembro de 2005
Flohmarkt am Ebertplatz
Hoje, levantei-me cedo, preparei-me para o frio que já se começa a sentir por estes lados e fui (com verdadeiros peritos nestas coisas) a uma das feiras da ladra da cidade.
Esperava-me um pequeno pátio num bairro residencial, estava cheio e cheirava a comida caseira (uma banca logo à entrada da feira vendia comida com um aspecto delicioso - mais tarde disseram-me que era mesmo tudo caseiro: pessoas que em vez de venderem roupa ou discos antigos, vendiam comida feita por elas).
A pouco e pouco fui-me apercebendo que estava numa verdadeira feira da ladra, nada do que se vende ali é novo e os preços são simplesmente inacreditáveis (esqueçam a feira da ladra de Lisboa!).
Comecei por comprar um livro de Brecht (estou a começar as minhas leituras em alemão) custou-me 50 cêntimos :) , logo a seguir vi um espelho lindo para o meu novo quarto, 5 euros (foi a coisa mais cara que comprei!), depois de mais umas voltas encontrei "morte em Veneza" do Thomas Mann por € 1.50. Como não podia deixar de ser comprei uma mala e um colar (cada um, um euro - inacreditável) e acabei as minhas compras com uma camisola verde tropa que me custou € 3!
Depois das compras sentámo-nos numa esplanada, que fica num dos extremos do pátio, a beber um capuccino e a aproveitar o resto da manhã de sol.
Esperava-me um pequeno pátio num bairro residencial, estava cheio e cheirava a comida caseira (uma banca logo à entrada da feira vendia comida com um aspecto delicioso - mais tarde disseram-me que era mesmo tudo caseiro: pessoas que em vez de venderem roupa ou discos antigos, vendiam comida feita por elas).
A pouco e pouco fui-me apercebendo que estava numa verdadeira feira da ladra, nada do que se vende ali é novo e os preços são simplesmente inacreditáveis (esqueçam a feira da ladra de Lisboa!).
Comecei por comprar um livro de Brecht (estou a começar as minhas leituras em alemão) custou-me 50 cêntimos :) , logo a seguir vi um espelho lindo para o meu novo quarto, 5 euros (foi a coisa mais cara que comprei!), depois de mais umas voltas encontrei "morte em Veneza" do Thomas Mann por € 1.50. Como não podia deixar de ser comprei uma mala e um colar (cada um, um euro - inacreditável) e acabei as minhas compras com uma camisola verde tropa que me custou € 3!
Depois das compras sentámo-nos numa esplanada, que fica num dos extremos do pátio, a beber um capuccino e a aproveitar o resto da manhã de sol.
sábado, 17 de setembro de 2005
ansichten christi
Ansichten Christi - Das Christusbild von der Antike bis zum 20.Jahrhundert
Assim se chama a última exposição que fui ver (e que está patente no Museu Wallraf Richartz - Fondation Corboud), numa tradução livre quer dizer: Aspectos de Cristo - a imagem de Cristo desde a Antiguidade até ao século 20.
Mais do que uma viagem pelo tempo, a exposição apresenta a imagem de Cristo sob diferentes pontos de vista: I - a ressureição e o retorno triunfal de Cristo, II - a representação simbólica ou abstracta de Cristo, III - o retrato figurativo de Cristo, IV - Cristo e os artistas, V - aspectos de Cristo no papel, VI - a dualidade de Cristo enquanto Deus e Cristo enquanto Homem, VII - paixão e emoção.
Vale a pena, não só pelos VII temas estarem muito bem conseguidos, mas também por certas obras de arte individualmente consideradas, de artistas como Michelangelo, El Greco, Rubens, Dürer, até Gaudi, Picasso, Beuyes ou Warhol.
Pessoalmente, uma certa escultura de Rodin "a mão de Deus" e uma imagem de Cristo intitulada o véu de Verónica que é desenhada com apenas uma linha ( de 1735) impressionaram-me especialmente.
Assim se chama a última exposição que fui ver (e que está patente no Museu Wallraf Richartz - Fondation Corboud), numa tradução livre quer dizer: Aspectos de Cristo - a imagem de Cristo desde a Antiguidade até ao século 20.
Mais do que uma viagem pelo tempo, a exposição apresenta a imagem de Cristo sob diferentes pontos de vista: I - a ressureição e o retorno triunfal de Cristo, II - a representação simbólica ou abstracta de Cristo, III - o retrato figurativo de Cristo, IV - Cristo e os artistas, V - aspectos de Cristo no papel, VI - a dualidade de Cristo enquanto Deus e Cristo enquanto Homem, VII - paixão e emoção.
Vale a pena, não só pelos VII temas estarem muito bem conseguidos, mas também por certas obras de arte individualmente consideradas, de artistas como Michelangelo, El Greco, Rubens, Dürer, até Gaudi, Picasso, Beuyes ou Warhol.
Pessoalmente, uma certa escultura de Rodin "a mão de Deus" e uma imagem de Cristo intitulada o véu de Verónica que é desenhada com apenas uma linha ( de 1735) impressionaram-me especialmente.
quinta-feira, 15 de setembro de 2005
as saudades fazem-me ouvir madredeus
Ecos Na Catedral (Madredeus)
Os teus olhos são vitrais
Que mudam de cor com o céu
E quando sorriem, iguais...
E quando sorriem, iguais...
Quem muda de cor sou eu
Tomara teus olhos vissem
O amor que trago por ti
Nem o entardecer me acalma...
Nem o entardecer me acalma...
Na ânsia de te ter aqui
E o teu perfume, o incenso
Os ecos de uma oração
Misturam-se num esboço imenso
Afogam-se na solidão
Fui para um templo de pedra
Escolhi um recanto isolado
Que me faça esquecer tua voz...
Esquecer-me da tua voz...
Que me faça acordar do passado
Escondida em sítio sagrado
E não me apetece o perdão
Devo estar enfeitiçada
Náufrago do coração
E o teu perfume, o incenso
Os ecos de uma oração
Misturam-se num esboço imenso
Afogam-se na solidão
Não sei se perdoo o meu fado
Não sei se consigo enfim
Um dia esquecer que teus olhos
Sorriem, mas não para mim
Os teus olhos são vitrais
Que mudam de cor com o céu
E quando sorriem, iguais...
E quando sorriem, iguais...
Quem muda de cor sou eu
Tomara teus olhos vissem
O amor que trago por ti
Nem o entardecer me acalma...
Nem o entardecer me acalma...
Na ânsia de te ter aqui
E o teu perfume, o incenso
Os ecos de uma oração
Misturam-se num esboço imenso
Afogam-se na solidão
Fui para um templo de pedra
Escolhi um recanto isolado
Que me faça esquecer tua voz...
Esquecer-me da tua voz...
Que me faça acordar do passado
Escondida em sítio sagrado
E não me apetece o perdão
Devo estar enfeitiçada
Náufrago do coração
E o teu perfume, o incenso
Os ecos de uma oração
Misturam-se num esboço imenso
Afogam-se na solidão
Não sei se perdoo o meu fado
Não sei se consigo enfim
Um dia esquecer que teus olhos
Sorriem, mas não para mim
terça-feira, 13 de setembro de 2005
isto de não ter televisão
Isto de não ter televisão dá em ler.... ler muito, aqui ficam algumas citações dos livros que andei a ler nos últimos tempos e que recomendo vivamente.
A short history of nearly everything - Bill Bryson
" To begin with, for you to be here now trillions of drifting atoms had somehow to assemble in a intricate and curiously obliging manner to create you. It's an arrangement so specialized and particular that it has never been tried before and will only exist this once."
Simplesmente de leitura obrigatória, tudo o que sempre quis saber sobre tudo e muito mais... desde a origem do universo até ao desenvolvimento do ser humano, está tudo aqui.
Viagem ao fim da noite - Céline
" Lá cobarde era, eu e ele bem o sabíamos; era-o por natureza, sempre a esperar que o salvassem da verdade, mas por outro lado eu começava a perguntar-me a mim próprio se nalgum sítio existiriam pessoas verdadeiramente cobardes... Num homem, seja ele qual for, dir-se-á que podemos encontrar sempre uma espécie de coisas pelas quais está imediatamente pronto a morrer e ainda por cima muito contente. O que sucede é que nem sempre há ocasião para uma morte bonita, a ocasião que lhe seria cara. e por isso morre como pode, num sítio qualquer... E o homem por lá fica, na terra, com ar de quem é mais um pobre-diabo, mais um cobarde perante todos mas não convencido disso, claro está. É apenas aparência, a cobardia."
A apresentação de Aníbal Fernandes, na versão portuguesa, diz tudo sobre este livro.... simplesmente incontornável.
The Book of Illusions - Paul Auster
" All along, she was the one who had been destined to light the match and bring their work to an end, and that thought must have grown in her as te years went by until it overpowered everything else. Little, by little, it had become an aesthetic principle in this own right. Even as she continued working on the films with Hector, she must have felt that the work was no longer about making films. It was about making something in order to destroy it. That was the work, and until all evidence of the work had been destroyed, the work would not exist. It would come into being only at the moment of its annihilation - and then, as the smoke rose up into the hot New Mexican day, it would be gone."
Explora o conceito de arte de uma forma bastante interessante; questiona até que ponto a obra de arte só existe enquanto tal, se for divulgada.
O mito do eterno retorno - Mircea Eliade
" Se não receássemos parecer demasiado ambisiosos, teríamos dado a este livro o seguinte subtítulo: Introdução a uma Filosofia da História. Porque, no fundo, é esse o sentido deste ensaio, embora com a particularidade de, em vez de utilizarmos a análise expeculativa do fenómeno histórico, irmos investigar as concepções fundamentais das sociedades primitivas que, conhecendo também uma certa forma de "história", se obstinam em a não ter em conta."
(excerto da introdução do livro)
Esta é a minha actual leitura :)
A short history of nearly everything - Bill Bryson
" To begin with, for you to be here now trillions of drifting atoms had somehow to assemble in a intricate and curiously obliging manner to create you. It's an arrangement so specialized and particular that it has never been tried before and will only exist this once."
Simplesmente de leitura obrigatória, tudo o que sempre quis saber sobre tudo e muito mais... desde a origem do universo até ao desenvolvimento do ser humano, está tudo aqui.
Viagem ao fim da noite - Céline
" Lá cobarde era, eu e ele bem o sabíamos; era-o por natureza, sempre a esperar que o salvassem da verdade, mas por outro lado eu começava a perguntar-me a mim próprio se nalgum sítio existiriam pessoas verdadeiramente cobardes... Num homem, seja ele qual for, dir-se-á que podemos encontrar sempre uma espécie de coisas pelas quais está imediatamente pronto a morrer e ainda por cima muito contente. O que sucede é que nem sempre há ocasião para uma morte bonita, a ocasião que lhe seria cara. e por isso morre como pode, num sítio qualquer... E o homem por lá fica, na terra, com ar de quem é mais um pobre-diabo, mais um cobarde perante todos mas não convencido disso, claro está. É apenas aparência, a cobardia."
A apresentação de Aníbal Fernandes, na versão portuguesa, diz tudo sobre este livro.... simplesmente incontornável.
The Book of Illusions - Paul Auster
" All along, she was the one who had been destined to light the match and bring their work to an end, and that thought must have grown in her as te years went by until it overpowered everything else. Little, by little, it had become an aesthetic principle in this own right. Even as she continued working on the films with Hector, she must have felt that the work was no longer about making films. It was about making something in order to destroy it. That was the work, and until all evidence of the work had been destroyed, the work would not exist. It would come into being only at the moment of its annihilation - and then, as the smoke rose up into the hot New Mexican day, it would be gone."
Explora o conceito de arte de uma forma bastante interessante; questiona até que ponto a obra de arte só existe enquanto tal, se for divulgada.
O mito do eterno retorno - Mircea Eliade
" Se não receássemos parecer demasiado ambisiosos, teríamos dado a este livro o seguinte subtítulo: Introdução a uma Filosofia da História. Porque, no fundo, é esse o sentido deste ensaio, embora com a particularidade de, em vez de utilizarmos a análise expeculativa do fenómeno histórico, irmos investigar as concepções fundamentais das sociedades primitivas que, conhecendo também uma certa forma de "história", se obstinam em a não ter em conta."
(excerto da introdução do livro)
Esta é a minha actual leitura :)
domingo, 11 de setembro de 2005
água de colónia
primeiros dia em colónia
Colónia, como não podia deixar de ser, é uma cidade tipicamente alemã... desde toda a burocracia que tive de tratar para cá viver apenas 6 meses, até aos trasportes públicos pontuais ao minuto. Tem uma cerveja própria a "kolsch" (nada má), uma catedral linda e um museu de arte moderna no qual andei perdida um dia inteiro :) ...
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