As razões para votar sim no próximo referendo sobre a despenalização do aborto são simples e conhecidas de todos, talvez por isso a campanha do "sim" não esteja a ter um impacto tão grande quanto a campanha do não:
uma mulher que escolha fazer um aborto não deve ser presa, não deve ser marginalizada pelo sistema de saúde, deve ter direito a aconselhamento médico, deve ter o direito a tomar a sua decisão dentro e com o apoio da sociedade de que faz parte - deve-lhe ser permitido manter a sua dignidade.
Mas não foi pelas razões que me fazem ir votar sim que decidi escrever, foi antes pela campanha levada a cabo pelos diferentes movimentos do "não", que me parece, no mínimo, hipócrita.
Então é agora que estes movimentos aparecem reivindicando medidas alternativas de combate aos abortos clandestinos? Quando é que estas pessoas se mobilizaram para reivindicar apoio para as famílias com problemas económicos, para as mães adolescentes, para maior investimento no planeamento familiar ou na educação sexual nas escolas?
É agora, quando se pergunta, em referendo, se quem faz um aborto deve ser penalmente responsabilizado, que estas pessoas decidem que devem intervir, pedindo às pessoas para manterem o status quo, mas não resolvendo o problema em questão?
Onde está a intervenção na sociedade civil quando esta é realmente precisa?
Da última vez o referendo não foi vinculativo pois mais de metade do eleitorado não foi votar, no entanto a mobilização pelo não foi tal que o número de votos pela manutenção da lei ultrapassou o número de votos pela sua mudança. Isto levou a alguma discussão pública sobre como resolver os abortos clandestinos, sobre como dar apoio a quem não queira manter uma gravidez? Não, muito rapidamente estes movimentos se remeteram ao silêncio. Afinal talvez ignorar o problema o faça desaparecer...
Mais do que o voto no "não" o que eu não suporto são os movimentos pelo "não" - que aparecem como sendo moralmente imaculados.
Cantam, recitam poemas, apelam ao nosso lado mais sensível e até defendem que no fundo, no fundo são contra mandar mulheres para a prisão; mas desde que me lembro que a lei está do lado deles e sinceramente não vi estas pessoas empenhadas em algo mais do que manter o que temos, empenhadas em mudar a situação insustentável que representam os abortos clandestinos no nosso país.
uma mulher que escolha fazer um aborto não deve ser presa, não deve ser marginalizada pelo sistema de saúde, deve ter direito a aconselhamento médico, deve ter o direito a tomar a sua decisão dentro e com o apoio da sociedade de que faz parte - deve-lhe ser permitido manter a sua dignidade.
Mas não foi pelas razões que me fazem ir votar sim que decidi escrever, foi antes pela campanha levada a cabo pelos diferentes movimentos do "não", que me parece, no mínimo, hipócrita.
Então é agora que estes movimentos aparecem reivindicando medidas alternativas de combate aos abortos clandestinos? Quando é que estas pessoas se mobilizaram para reivindicar apoio para as famílias com problemas económicos, para as mães adolescentes, para maior investimento no planeamento familiar ou na educação sexual nas escolas?
É agora, quando se pergunta, em referendo, se quem faz um aborto deve ser penalmente responsabilizado, que estas pessoas decidem que devem intervir, pedindo às pessoas para manterem o status quo, mas não resolvendo o problema em questão?
Onde está a intervenção na sociedade civil quando esta é realmente precisa?
Da última vez o referendo não foi vinculativo pois mais de metade do eleitorado não foi votar, no entanto a mobilização pelo não foi tal que o número de votos pela manutenção da lei ultrapassou o número de votos pela sua mudança. Isto levou a alguma discussão pública sobre como resolver os abortos clandestinos, sobre como dar apoio a quem não queira manter uma gravidez? Não, muito rapidamente estes movimentos se remeteram ao silêncio. Afinal talvez ignorar o problema o faça desaparecer...
Mais do que o voto no "não" o que eu não suporto são os movimentos pelo "não" - que aparecem como sendo moralmente imaculados.
Cantam, recitam poemas, apelam ao nosso lado mais sensível e até defendem que no fundo, no fundo são contra mandar mulheres para a prisão; mas desde que me lembro que a lei está do lado deles e sinceramente não vi estas pessoas empenhadas em algo mais do que manter o que temos, empenhadas em mudar a situação insustentável que representam os abortos clandestinos no nosso país.
2 comentários:
Queria por aqui um comentário, e tenho andado as voltas com aquilo que ia dizer...não consegui, então pedi emprestadas umas palavras a Oscar Wilde, que vou colocar no meu blog!
dou-te toda a razão! infelizmente a campanha do "não" está a confundir a real questão puxando ao lado sentimental de quem querem convencer... a questão é passar a controlar uma situação que sempre aconteceu clandestina, e que por assim o ser fragiliza (mais do que o próprio aborto já tem de fragilizador) as mulheres que optam por fazê-lo. Dizer não, não é defender mais a vida que os que dizem sim, é fechar os olhos a uma realidade que vai continuar a acontecer, nos mesmos parâmetros já conhecidos, sob um conjunto de ideias que, para mim, são moralistas, ilusórias (no que diz respeito ao apoio que agora, se diz passar a haver) e que ignoram as condições de vida a que algumas mulheres estão sujeitas. Porque esta questão, no fundo, é importante para elas e para a vida de muitas crianças (indesejadas ou "inconvenientes"). As mulheres que têm mais condições financeiras podem continuar a ir a Espanha e voltar...
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