"Mas os teólogos deparam-se com um problema, quando definiram o Homem-Deus com um conceito fulcral da linguagem teatral, ou seja, persona ou, em grego prósopon. Esta tradução só era então possível, proibindo, ao mesmo tempo, a sua origem a partir do teatro. Só assim podiam os teólogos utilizar, sem risco, o conceito para a pessoa de Cristo, a qual se expressava na sua face e que, todavia, não era um simples papel teatral. A analogia com o teatro era, porém, demasiado óbvia para ser simplesmente esquecida: o conceito deveria tão-só adquirir um novo conteúdo conceptual. Os mesmos teólogos, que se distinguiam na definição de Cristo, atacaram, por isso, o teatro de máscaras contemporâneo, cujos dias estavam, por isso, contados. Tertuliano, que já reclamara para Cristo o conceito de pessoa, investiu contra o recurso de máscaras (opus personarum), já que Deus proibia toda a imitação da sua criação como falseamento. O homem como sua imagem (imago sua), era ofendido pelo jogo de máscaras."
Hans Belting, A verdadeira imagem
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