Nesta história de exames copiados ou conhecidos de antemão, depois do choque inicial vem uma certeza: temos o que merecemos. Passo a explicar, metade dos comentários que li à dita notícia são qualquer coisa deste género "antigamente é que era bom, copiava-se, mas quem era apanhado a copiar apanhava zero.".
Não é que discorde da parte final da frase, de facto, receber dez valores por fraude é premiar, ter direito a repetir o exame é premiar, mas a geração que se indigna nestes comentários esquece-se que também é a geração que vigia estes testes, que decide sobre este assunto. A geração que tão rapidamente cai num saudosismo exagerado é a geração que de facto tem o poder para decidir se estes senhores virão um dia a ser magistrados.
O mesmo vale nas universidades, temos os alunos que merecemos, temos os licenciados que merecemos. Muito se fala da geração rasca (novamente na moda depois da geração à rasca), pouco se fala da geração que permite que pessoas sem o mínimo de competências conclua o ensino superior.
E sobre este assunto deixo apenas mais um desabafo, não podia estar mais em desacordo com o actual Bastonário da Ordem dos Advogados, que defende que se deve entrar na profissão com mais de 35 anos, que se deve ir buscar magistrados à advocacia. Honestamente, não é falta de experiência de vida que falta a quem julga, é, essencialmente, bom-senso, ética e rigor profissional. Podia falar de como se perdem os melhores alunos que saem das faculdades por entraves do género que o Sr. Bastonário defende, podia falar de como os advogados se especializam cada vez mais em áreas que nada têm que ver com a magistratura, podia dizer que aos 35 anos só em busca de melhores condições materiais (e raramente por vocação) se muda de profissão, podia, mas segundo o Sr. Bastonário não tenho idade para tais considerações, falta-me experiência de vida.
3 comentários:
«...não tenho idade para tais considerações, falta-me experiência de vida...»
E pronto
contento-me em resmungar por aqui e deixar as considerações para os outros, mais sábios ;)
Pois eu acabei por ficar como o companheiro do Sócrates. Quando o filósofo concluiu, «Só sei que nada sei», o outro parou, pensou um bocado e disse-lhe:
«Olha, e eu nem isso...»
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